sexta-feira, 9 de abril de 2010

AFINAL QUE INCLUSÃO ESCOLAR ESTAMOS VIVENCIANDO?

Silvio Santiago Vieira
A inclusão escolar é um tema muito debatido na atualidade e implica no aprimoramento da formação dos professores para realizar propostas de ensino inclusivo e, também, um pretexto para que a escola se modernize, atendendo às exigências de uma sociedade que não admite preconceitos, discriminações, barreiras entre seres, povos e culturas. Assim, poderemos vislumbrar um futuro para pessoas com deficiência e para as ditas normais, na escola.

Mas para que isso aconteça, é preciso mudar a mentalidade carregada pelo medo que o professor manifesta, quando se depara com uma pessoa com deficiência na sala de aula, repetindo a desculpa, muitas vezes dada, de que não foi preparado na universidade para ensinar o aluno portador de necessidades educativas especiais.

Nesta semana tive a oportunidade de ir junto com meu amigo surdo à sua escola para ajudá-lo, porque as escolas públicas de nosso Estado não possuem interprete de Libras, então o aluno surdo e incluído em uma sala que para ele é totalmente silenciosa, isso porque criou-se a idéia de um surdo genérico, ou seja, oralisado como se todos os surdos tivessem as mesmas peculiaridades. Mas a realidade é bem diferente!

É fato que existem surdos que, dentro de uma sala de aula, compreendem o que o professor está falando em português desde que a informação seja verbalizada frontalmente para a pessoa surda, pois por intermédio da leitura labial, mesmo com algumas dificuldades é possível entender o que está sendo dito, no entanto existe um grupo de surdos consideravelmente maior, contraditoriamente com visibilidade menor quanto ao respeito as suas peculiaridades, que não possui oralidade tendo como canal de comunicação a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais: meu amigo é uma dessas pessoas que ouve e fala por meio de sinalizações gestuais.

Durante a aula que tive a oportunidade de assistir o professor falava de costas para os alunos, se quer levando em consideração que possui um aluno portador de necessidades educativas especiais em sua classe a qual a escola, vangloriada, chama de inclusiva; mas que inclusão educacional é essa em que o aluno é colocado em convívio com outros alunos ditos “normais” sem condições para que o mesmo tenha acesso a informação acadêmico-científica que é socializada pelo orientador de aprendizagem por meio da linguagem verbal?


A charge reflete bastante essa postura tomada pelo educador da rede regular de ensino quanto ao descaso frente à situação da inclusão.


Vigotsky (1987) já dizia que a educação para esses indivíduos deve se basear na organização especial de suas funções e em suas características mais positivas, ao invés de basear em seus aspectos deficitários.

É importante ressaltar que não podemos penalizar esse aluno. Mas geralmente é o contrário disso que observamos: a escola enquanto aparelho ideológico que prega uma inclusão que, nos moldes que se encontra parece apenas uma maquiagem, mostra e ensina aos alunos, que não está preparada para atender uma pessoa com deficiência sendo que a inclusão desde 1996 já deixou de ser uma utopia.

Numa prática pedagógica que tome como ponto de partida a deficiência em si apresentada como pressuposto a dificuldade, previamente, determina-se que a pessoa portadora de deficiência não possa alcançar possibilidades do desenvolvimento de atividades de caráter funcional. Se, ao contrário, não “reduzirmos”, de antemão, as possibilidades do nosso aluno portador de deficiência e, num processo de interação constante, procurarmos com ele as "vias de acesso" à constituição de conhecimentos e valores, estaremos possibilitando que aprenda e se desenvolva, apesar da deficiência, sem previamente determinarmos até onde terá condições de caminhar.

A educação especial é um desafio especial. Melhorar a qualidade do ensino-aprendizagem para o aluno com deficiência , requer do professor a utilização de metodologias que suprimam as dificuldades impostas pela sua limitação, seja ela auditiva, sensorial, de locomoção ou cognitiva, requer do professor disposição para desvencilhar-se de seu costumeiro comodismo e agir de forma propensa ao aprendizado.

O professor competente deve está compromissado com a prática pedagógica, assumindo uma postura política de transformação da comunidade, tendo claro para si que só há sentido em ensinar, quando ele for capaz de se colocar a disposição do aluno e de se adaptar a sua linguagem e aos seus modos de socialização, proporcionando intensa relação dialogada professor-aluno. Os professores que se identificam como educadores necessitam está compromissados com alguma coisa que afeta o presente e o futuro da humanidade: a formação de seres humanos, respeitando as diferenças e trabalhando e prol da valorização da diversidade.

2 comentários:

  1. Eu discordo , com essa idéia que todos os mecanismos de aprendizagem dita inclusiva fique a cargo do professor, Antes de colocar portadores de deficiência dentro de uma sala de aula para pessoas que não tem limitações iguais, a escola como estado deve pensar primeiro em financiar meios para que o aprendizado desses alunos não fique deficitário. O professor não pode ser o responsável por esse universo de leis que só funcionam no papel , mas na realidade do dia a dia não tem nenhuma condição para serem praticadas. Quem criou a lei tem que revisar na prática para ver se funciona.

    ResponderExcluir
  2. Concordo que realmente o estado, a escola e a sociedade como um todo precisam exercer seu papel, pois inclusão de fato só com o apoio de todos. No entanto, em relação aos mecanismos de aprendizagem, muito depende do professor. Enquanto ele não aceitar de coração que independente de qualquer coisa essa criança é seu aluno assim como os demais, jamais tal professor saberá o que é realmente o processo ensino aprendizagem. Já imaginou, você ser o responsável pela aprendizagem de uma criança com deficiência? Por mínima que ela seja, já valeu a pena ser professor.

    ResponderExcluir